quinta-feira, 23 de junho de 2022

Ecologia humana para um país letrado, diverso, justo e criativo*

 

 

 

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Por meio de práticas ecohumanas, a serem pensadas e geridas a partir de instituições públicas de ensino e artes, criar e desenvolver cátedras livres, voltadas para o incentivo e o desenvolvimento de diversos letramentos, baseados em artes e princípios justos, inclusivos, solidários, ecológicos, colaborativos e de uso livre, a exemplo de ações e projetos que envolvam professores, pessoas idosas, crianças, jovens, adultos e profissionais da inovação e da tecnologia, em prol de um objetivo comum: proporcionar a todas as pessoas – brasileiras ou estrangeiras, escolarizadas ou não -, a aprendizagem, o amplo uso e a difusão da Língua Portuguesa a partir do Brasil. Para tanto, faz-se necessário e possível pensar na larga implantação de bibliotecas livres (em ruas, praças, sites), editoras cartoneras (ligadas a associações de catadores de materiais recicláveis), bem como ambientes virtuais lúdico/ educativos, que sirvam também para gerar renda pela via do turismo artístico e histórico.

 

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* Proposta encaminhada para o 'Programa juntos pelo Brasil', aceita e publicada no site:

https://www.programajuntospelobrasil.com.br/eixo-2/estrategia-de-desenvolvimento/ecologia-humana-para-um-pais-letrado-diverso-justo-e-criativo/

(1) Fonte da imagem: https://www.instagram.com/p/CfFQ_-PAIa4/


segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Livro cartonero: outro modus operandi

 

 (1)


Se alguém ainda não sabe o que é um livro cartonero, uma resposta curta resumiria que é um livro. No caminho do detalhe, torna-se necessário dizer que se trata de uma publicação feita quase completamente à mão, a partir de técnicas de encadernação bastante antigas, quando os livros não eram fabricados em / por editoras e muito menos sob processos de automação.


O que se tem observado no curso dessas primeiras décadas do século XXI é que mercados editoriais mundiais tem decrescido, editoras estão fechando e que publicar um livro impresso tem se tornado cada vez mais caro.


 (2)


Menos do que uma solução, a edição cartonera mostra-se como um negócio alternativo, de baixo custo, democrático, autônomo e, antes de mais nada, ecológico, uma vez que impede que o papelão vire lixo. 


Da autopublicação para edição de arte, os livros cartoneros são também experiências artísticas feitas de modo individual ou coletivo. Com papeis dobrados, cortados e/ou rasgados, xerox e/ou impressora simples, linha e agulha um livro ganha vida, à espera de uma capa de papelão, geralmente colorida com tinta, colagens, serigrafia, escrita caligráfica etc.




O miolo desses livros pode seguir os mesmos procedimentos de formatação que outros tipos de edição adotam, projeto gráfico, diagramação, enfim, modos gráficos de proceder para que a mensagem e o texto que se constituem em conteúdos livrescos sejam dados a público.


Vale conhecer e apoiar as editoras cartoneras nacionais e internacionais, para que mais pessoas tenham acesso a livros impressos com arte e qualidades que vão muito além do campo editorial convencional.


Andréa Mascarenhas

28.12.2020


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(1) FONTE da imagem: http://revista.algomais.com/cultura/cresce-em-pernambuco-o-numero-de-editoras-cartoneras

(2) FONTE da imagem: https://malhafinacartonera.wordpress.com/2020/02/20/magic-city-la-poesia-cubana-de-miami/

(3) Fonte da imagem: http://www.magnoliacartonera.com/2016/08/ideias-para-bibliotecas-livres.html



segunda-feira, 25 de maio de 2015

“Yu-Gen” | Tomie Ohtake e Haroldo de Campos


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Tomie Ohtake | Poesia | Do álbum “Yu-Gen” em parceria com Haroldo de Campos, em homenagem ao Japão | 37,5 cm x 56 cm aproximadamente | 1998 |



“Yugen: Caderno japonês” é uma série de poemas de Haroldo de Campos. Foi pela primeira vez publicada na Espanha, em 1993, como livro autônomo. Em 2000, é publicada sua versão francesa. A versão em língua portuguesa, em 1998, vem como seção, intitulada “yûgen : caderno japonês” (desta forma grafado), do livro de poemas Crisantempo: Do espaço curvo nasce um.

Trata-se de um longo ciclo que já tinha precedentes em menor escala em livros de poemas anteriores deste ensaísta e tradutor dedicado às poesias chinesa e japonesa clássicas e de vanguarda. YU-GEN, assim, pode ser tido como uma tradução de valores poéticos orientais para o poema pós-utópico.


Os poemas da série “yûgen” são escritos com base no mesmo procedimento das traduções, como se fossem traduções de poemas não existentes. A disposição gráfica de alguns poemas da série sugere uma dança à leitura, mais evidente no poema intitulado “akari”.

Em 1998, estes poemas são incorporados por Tomie Ohtake a uma série de gravuras. YU-GEN, álbum de gravuras, num diálogo entre poesia e artes visuais. Expostas em 1998, na Galeria Nara Roesler, textos originalmente tipografados em livro, são caligrafados em obra plástica, oferecendo como resultado um poema-gravura.

O sonho do livro de poesias buscado pelo vanguardismo tardio no Brasil, encontra-se atualmente disperso nas telas soltas de um álbum de gravuras, com originais espalhados por diversas coleções de arte.

Descentramento e leveza é YU-GEN. O conjunto de gravuras foi recentemente restaurado, em 2013, quando do centenário de nascimento de Tomie Ohtake.

FONTE DO SITE DE RESTAURO: http://www.ateliearterestauracao.com.br/100-anos-de-tomie-ohtake-yu-gen/
FONTE DO ARTIGO NA INTEGRA: http://www.ciencialit.letras.ufrj.br/garrafa/garrafa25/luizguilherme_tempoe.pdf

"Yûgen, significa, profundidade e mistério. Foi um trabalho verbovisual composto pela pintora japonesa radicada em São Paulo Tomie Othake e o poeta Haroldo de Campos. Reunidas num álbum, essas pinturas poemas foram lançadas em 1998 e incorpora a pintura da letra ao traço, a frase manuscrita é também o traço da pintura. Um belo resultado intersemiótico entre verbo e imagem, gerando nessa fusão um signo artístico para ler e ver."

FONTE: do Blog LADODENTRO - http://ladodentro.blogspot.com.br/2011/11/yugen-tomie-othake-e-haroldo-de-campos.html

VÍDEOS SOBRE TOMIE:

https://www.youtube.com/watch?v=ACxFrk0ea7U

http://tvuol.uol.com.br/video/tizuka-yamasaki-faz-documentario-sobre-tomie-ohtake-04024C1C3068C4995326

http://tv.estadao.com.br/embed?assetID=358114_pt_video-player&width=455&height=362

http://tvuol.uol.com.br/video/metropolis--a-artista-tomie-ohtake-completa-99-anos-0402CC99386EDC894326

http://tvuol.uol.com.br/video/o-adeus-a-tomie-ohtake-04028C183568DC995326


FONTE das Imagens:

1) http://veja.abril.com.br/infograficos/especiais/tomie-ohtake/gravura.shtml
2) http://www.ateliearterestauracao.com.br/100-anos-de-tomie-ohtake-yu-gen/yugen-4/
3) http://www.fibragaleria.com/peca.asp?ID=256041&ctd=1&tot=201&tipo
4) http://www.ateliearterestauracao.com.br/100-anos-de-tomie-ohtake-yu-gen/yugen-14/
5) http://www.ateliearterestauracao.com.br/100-anos-de-tomie-ohtake-yu-gen/yugen-17/
6) http://www.ateliearterestauracao.com.br/100-anos-de-tomie-ohtake-yu-gen/
7) http://www.ateliearterestauracao.com.br/100-anos-de-tomie-ohtake-yu-gen/yugen-8/
8) http://www.ateliearterestauracao.com.br/100-anos-de-tomie-ohtake-yu-gen/yugen-11/
9) http://ladodentro.blogspot.com.br/2011/11/yugen-tomie-othake-e-haroldo-de-campos.html
10) http://ladodentro.blogspot.com.br/2011/11/yugen-tomie-othake-e-haroldo-de-campos.html
11) http://ladodentro.blogspot.com.br/2011/11/yugen-tomie-othake-e-haroldo-de-campos.html
12) http://img.estadao.com.br/resources/jpg/4/2/1423687404624.jpg
13) http://veja.abril.com.br/infograficos/especiais/tomie-ohtake/index.shtml

domingo, 26 de abril de 2015

[Sempre é tempo... de lembrar, pra quem viveu. Sempre é tempo... de conhecer, pra quem não sabe do que se trata]


 (1)


 


25 de abril de 1974, Revolução dos cravos em Portugal



25 de Abril
Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo






Sophia de Mello Breyner Andresen, O Nome das Coisas, 1974.



(1)
FONTE (poema e imagens): <http://lusofonia.com.sapo.pt/literatura_p…/Sophia25abril.htm>

domingo, 13 de julho de 2014

[Tecnologias a serviço do amor fraternal]




1



São tempos de barbárie o que vivemos nesses dias ditos contemporâneos, sem dúvida. Vemos cada vez mais práticas aceleradas de robotização do humano, do homem tratado como máquina, como nos alertava Charles Chaplin em muitos de seus filmes. 

Não vamos muito longe e conhecemos ou escutamos falar de pessoas aparelhadas por dentro e por fora - do celular ao chip implantado em partes do corpo. E o que parece muito estranho é o fato de serem pessoas como nós, sem problemas físicos aparentes e não de pessoas com necessidades especiais. Há uma espécie de igualdade nesse quesito e nós mesmos e quem nos rodeia fazemos uso de algum tipo de prótese, sob a rasa alegação de que precisamos de cada extensão inventada, de cada novidade lançada ao mercado das veleidades. O argumento é sempre o mesmo: o novo, o inédito, o que facilmente ganha o rótulo de indispensável. Quase sempre são objetos que nos distanciam do que é natural. Atrativos que o consumo desenfreado nos oferece por meio de longas e pequenas prestações. Cada vez mais sedução, desejo e paixão por coisas descartáveis, não humanas, pelas quais muitos matam e morrem e se desvirtuam de sua essência humanista...

Mas..., nem tudo se perde no vácuo tecnológico e efêmero. Um bom exemplo do que se pode fazer com tantos aparatos que carregamos até mesmo no bolso é a iniciativa da Agência Mood, em São Paulo. Convidar leitores para narrar e gravar histórias infantis através de aplicativos que transmitem mensagens via texto e via voz. São ferramentas hoje tão comuns e que, com imensa facilidade, temos tomado conhecimento e incorporado ao nosso cotidiano. Vejam aqui a matéria na íntegra:

http://super.abril.com.br/blogs/planeta/gravacoes-feitas-no-whatsapp-viram-historias-de-ninar-para-criancas-de-abrigos/






2



Saber que crianças sem lar, sem pais e quase sem afeto algum podem se beneficiar, de algum modo, ao escutar uma história, dá-nos alento bastante para renovar as esperanças em inventos que não estão a serviço apenas de mais e mais capital.

Com os dois pés no chão, espelhemo-nos neste exemplo. Mas claro que não dá pra se enganar com tão pouco e pensar que o mundo, muito em breve, será melhor para cada ser humano, com acesso ou não aos novos bens virtuais. É preciso mais e mais ações em prol do essencial ao ser, da dignidade humana que se mostra tão ameaçada e vulnerável há séculos, essa sim, espécie em vias de extinção!

Como é bom saber que podemos ir além da técnica e usá-la para criar ou estreitar laços assim, plenos em afeto, valores humanos capazes de ultrapassar quaisquer filtros!



Professora Andréa do Nascimento Mascarenhas Silva (UNEB)
Dra. em Comunicação e Semiótica (PUC-SP)


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Imagem 1
http://www.tchulim.com.br/2014/02/amor/

Imagem 2
http://noisnatag.files.wordpress.com/2009/06/amor_odio2.jpg


quarta-feira, 20 de março de 2013

sexta-feira, 27 de julho de 2012

[Florbela, o Filme]


(Cartaz do filme)


POETISA PORTUGUESA NAS TELAS DE CINEMA

O filme FLORBELA, lançado em Portugal em março de 2012, traz a público um retrato lírico da poetiza portuguesa em formato ampliado para as telas do cinema. Um flash dos anos 20, capaz de compor uma ideia do que foi a vida de Florbela Espanca: um pouco dos aspectos intimistas que são marcas registradas da autora, até um esboço interessante do que foi a época em termos culturais, artísticos e políticos. Um excelente material para Cursos de cultura lusófona e Literatura Portuguesa.


SOBRE O FILME

"Num Portugal atordoado pelo fim da I República, Florbela (Dalila Carmo) separa-se de forma violenta de António (José Neves). Apaixonada por Mário Lage (Albano Jerónimo), refugia-se num novo casamento para encontrar estabilidade e escrever, mas a vida de esposa na província não é conciliável com sua alma inquieta. Não consegue escrever nem amar. Ao receber uma carta do irmão Apeles (Ivo Canelas), oficial da Aviação Naval e de licença em Lisboa, Florbela corre em busca de inspiração perto da elite literária que fervilha na capital.

Na cumplicidade do irmão aviador, Florbela procura um sopro em cada esquina: amantes, revoltas populares, festas de foxtrot e o Tejo que em breve verá o irmão partir num hidroavião. O marido tenta resgatá-la para a normalidade, mas como dar norte a quem tem sede de infinito? Entre a realidade e o sonho, os poemas surgem quando o tempo pára. Nesse imaginário febril de Florbela, neva dentro de casa, esvoaçam folhas na sala, panteras ganham vida e apenas os seus poemas a mantém sã. Por isso, Florbela tem que escrever! Este filme é o retrato íntimo de Florbela Espanca: não de toda a sua vida cheia de sofrimento, mas de um momento no tempo, em busca de inspiração, uma mulher que viveu de forma intensa e não conseguiu amar docemente."

FONTE: http://www.florbela.pt/


TRAILER

Aqui abaixo, um trailer do filme (há outros no YouTube):





ROTEIRO DE ESTUDO

Além das informações técnicas sobre o filme, o site do Filme ainda disponibiliza um Roteiro para estudos e debates, ao relacionar dados biográficos da poetiza com a produção fílmica, excelente material didático que possibilita conhecer melhor Florbela, seus textos poéticos, contextos e épocas em que viveu a escritora portuguesa.

FONTE: http://www.florbela.pt/downloads/florbela-ficha.pdf


Aqui abaixo, poemas de Florbela declamados na voz de Miguel Falabela:




DO FILME AOS LIVROS E A OUTROS ESPAÇOS

As imagens do filme inspiram e chamam atenção para a leitura das obras de Florbela, a intensidade da vida de uma mulher absolutamente singular, que escapa da tela de dos livros e chega de modo único a cada leitor e espectador. Vale assistir, ler e propagar tanta vida e lirismo!!!!


PARA SABER MAIS:
http://www.jornaldepoesia.jor.br/flor.html
http://www.ionline.pt/boa-vida/florbela-espanca-poesia-viva-sexualidade-flor-da-pele

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O Fazendeiro do Ar - Drummond



diaD - Dia de Drummond, que faria hoje 109 anos! Salve-salve 31 de outubro!

Vamos fazer uma chuva drummoniana hoje por aqui!!!


Os Ombros Suportam o Mundo
Carlos Drummond de Andrade

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
... Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.




Os versos acima foram publicados originalmente no livro "Sentimento do Mundo", Irmãos Pongetti - Rio de Janeiro, 1940. Foram extraídos do livro "Nova Reunião", José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1985, pág. 78.

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FONTE DO VÍDEO:
http://www.youtube.com/watch?v=UP66vBqmiNE&feature=player_embedded

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Manuel - Manueis

MANOEL DE BARROS



Uma Didática da Invenção (do O Livro das Ignorãnças)  1




(A)




VI







No descomeço era o verbo.


Só depois é que veio o delírio do verbo.


O delírio do verbo estava no começo, lá, Onde a criança diz:


Eu escuto a cor dos passarinhos.


A criança não sabe que o verbo escutar não


Funciona para cor, mas para som.


Então se a criança muda a função de um verbo, ele delira.


E pois.


Em poesia que é voz de poeta,


Que é a voz


De fazer nascimentos –


O verbo tem que pegar delírio.


C)












Paisagem noturna
MANUEL BANDEIRA  2



(B)





A sombra imensa, a noite infinita enche o vale . . .

E lá do fundo vem a voz

Humilde e lamentosa

Dos pássaros da treva. Em nós,

— Em noss'alma criminosa,

O pavor se insinua . . .

Um carneiro bale.

Ouvem-se pios funerais.

Um como grande e doloroso arquejo

Corta a amplidão que a amplidão continua . . .

E cadentes, metálicos, pontuais,

Os tanoeiros do brejo,

— Os vigias da noite silenciosa,

Malham nos aguaçais.





Pouco a pouco, porém, a muralha de treva

Vai perdendo a espessura, e em breve se adelgaça

Como um diáfano crepe, atrás do qual se eleva

A sombria massa

Das serranias.





O plenilúnio via romper . . . Já da penumbra

Lentamente reslumbra

A paisagem de grandes árvores dormentes.

E cambiantes sutis, tonalidades fugidias,

Tintas deliqüescentes

Mancham para o levante as nuvens langorosas.





Enfim, cheia, serena, pura,

Como uma hóstia de luz erguida no horizonte,

Fazendo levantar a fronte

Dos poetas e das almas amorosas,

Dissipando o temor nas consciências medrosas

E frustrando a emboscada a espiar na noite escura,

— A Lua

Assoma à crista da montanha.

Em sua luz se banha

A solidão cheia de vozes que segredam . . .





Em voluptuoso espreguiçar de forma nua

As névoas enveredam

No vale. São como alvas, longas charpas

Suspensas no ar ao longe das escarpas.

Lembram os rebanhos de carneiros

Quando,

Fugindo ao sol a pino,

Buscam oitões, adros hospitaleiros

E lá quedam tranqüilos ruminando . . .

Assim a névoa azul paira sonhando . . .

As estrelas sorriem de escutar

As baladas atrozes

Dos sapos.





E o luar úmido . . . fino . . .

Amávico . . . tutelar . . .

Anima e transfigura a solidão cheia de vozes . . .




Teresópolis, 1912

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1 EM: http://www.museudapessoa.net/mdl/memoriasDaLiteratura/editorial.html

EM: http://www.jornaldepoesia.jor.br/manuelbandeira01.html#paisagem

A) EM: http://cronicasdaregina2.blogspot.com/2011/04/amando-o-maneca.html
B) EM: http://depressaoepoesia.ning.com/profiles/blogs/manuel-bandeira
C) http://poesia-potiguar.blogspot.com/2009_04_01_archive.html

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Athos Bulcao by Ronaldo Fraga 2011

Athos Bulcao by Ronaldo Fraga 2011 by ∞ flor.de.maracuja ∞

Da coleção "Athos do início ao fim" by --0-0-- para o inverno 2011

Arte que retrata arte: eis uma das linhas motrizes das mais constantes no trabalho do estilista mineiro.

Fantástico trazer a arquitetura para a moda, pra moda como suporte em que é possível registrar (homenagear etc.) outras artes.

É isso que Ronaldo faz de melhor: encantar-se e nos encantar com as culturas que nos rodeiam! Foi assim com a literatura, com a dança, com a música, com a natureza..., além de estarem sempre presentes na moda do artista as artes produzidas pela mão das gentes que fazem nosso imenso Brasil!

--0-0--

A coleção nas palavras do artista:

"Pesquisei a produção de Athos dos anos 50, quando atuou em parceria com Oscar Niemeyer, até os desenhos que fez quando passou a sofrer do Mal de Parkinson"

“Ele olhou para a cultura brasileira desenhando-a de uma forma abstrata e concreta, ilustrando a arquitetura de Niemeyer com os arlequins e colombinas do carnaval carioca”, diz Ronaldo. Para ele, a generosidade de Athos é digna de admiração, já que o artista sempre optou por expor sua arte no espaço público, “sem nenhum pudor de colocar sua arte nos hospitais, nas escolas”.

Vejam aqui o vídeo em que o Ronaldo fala lindamente da coleção: vimeo.com/19643915

Aqui as novidades pra 2012 (com Noel Rosa) e as promoções das peças das coleções dele (em BH e Sampa)! ronaldofraga.com/blog/

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FONTE: g1.globo.com/pop-arte/spfw/inverno-2011/noticia/2011/01/r...
(Foto: Divulgação)

domingo, 5 de junho de 2011

FETICHE DE COSTUREIRA

Thais Gusmão para Riachuelo



FITA MÉTRICA NA MODA ÍNTIMA


O assunto dá pano pra manga literalmente. Em 2006, fiz um curso na PUC-SP intitulado "Fetichismi Visuali e Sincretismi Culturali", com o professor italiano Massimo Canevacci (da Facoltà di Scienze della Comunicazione dell'Università di Roma, La Sapienza), e a temática do fetichismo na moda perpassava a ideia de comunicação (entre outras).

Nesse sentido, a moda elaborada pela Thais Gusmão, ao unir o universo da costureira à moda íntima feminina, tece uma relação pra lá de comunicativa, uma vez que a data comemorativa do dia dos namorados é a mola mestra dessa investida, interessante comercialmente e cheia de fetiche.

A ideia de fetiche há muito deixou de ser um tema ligado apenas ao apelo sex. É também uma poderosa ferramenta de trabalho quando o assunto gira em torno de agregar valores ao consumo.

Trazendo a fita métrica pra langerie, a criação da Thais dá um up incrível nesta 'aparente inofensiva' ferramenta do labor das costureiras ou, pra atualizar o segmento, as crafteiras moderninhas. Consequentemente e há um só tempo, a jogada de marketing ilumina o trabalho handmade e o da moda.

De quebra (mas não "de gratis" - rsrsrsr), fertiliza-se o imaginário dos namorados e, com isso, o consumo é estimulado!!

Quanta coisa é possível dizer e pensar sobre a tão conhecida FITA MÉTRICA, hem?!


É isso! E viva a criação, a desconstrução e a inversão do óbvio (que nem sempre o é)!


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FOTO: eraumavezembrasilia.blogspot.com/2011/05/thais-gusmao-par...

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Portfólio de 'Alguns Outros Sertões'

Trago aqui hoje a ideia de um passado Projeto que se faz também futuro.

Trata-se a inventariar a arte e cultura de nossos sertões brasileiro, como bem o fizeram, por meio das letras artísticas, Mário de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Raquel de Queiroz e João Guimarães Rosa, pra falar desses mais conhecidos.

Aqui vou dar apenas uma pequena amostra do que é possível disponibilizar em rede, com vistas a proporcionar acesso as artes/culturas de nossos tantos sertões.

Sem uma ordem estabelecida, baseada apenas em minha experiência de pesquisa, começo por mostrar um pouco a obra de Lenio Braga.


(*)

Paranaense de Rio Claro, Lenio Braga viveu na Bahia por um período apesar de curto (décadas de 50 e 60), bastante criativo/produtivo (1).

Neste Mural, representado parcialmente pela foto acima e que fica localizado na Estação Rodoviária de Feira de Santana/BA, o artista como que registra flashes de imaginários que circulavam e ainda se fazem presentes pelos nossos sertões.

Ecos de tradições que não mais se vê com tanta frequência hoje, como o vendedor de pirulitos, os objetos domésticos confeccionados em barro, ou melhor, as tradições, a cultura e tudo em que se constituía a feira livre que por mais de 100 anos tomou as ruas da cidade, semanalmente.


Deixo aqui este pequeno exemplo, mas que comporta em si, em potência, diversos aspectos da grandiosidade do que chamamos Sertão.


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(*) FOTO - http://www.blogdafeira.com.br/noticia.php?id=8784

(1) Ver a Tese que desenvolvi durante o Curso de Doutorado em Comunicação e Semiótica, ligado à PUC-SP, em 2009. Ao final do trabalho há um registro imagético de parte da obra deste artista - http://www.sapientia.pucsp.br//tde_busca/arquivo.php?codArquivo=9202

(2) Importante site sobre o artista Lenio Braga - http://oinel.wordpress.com/

quarta-feira, 16 de março de 2011

Mário in poesia

(1)   (2)


Personalidade exemplar da nossa cultura brasileira, eis o que se pode dizer de mais elementar sobre o Mário de Andrade.

Escritor que se tornou além de um viajante cultural , um nome importante para a musicologia, para a etnografia e o folclore brasileiros. Mas é do viés poético de Mário que quero tratar.

Seu livro 'Pauliceia Desvairada" foi considerado pela crítica da época como o primeiro livro de poesia modernista. Saiu a público no mesmo ano da Semana de Arte Moderna, em 1922.

São poemas que constróem um eu coletivo diante da cidade. Ao mesmo tempo há ali o registro nada fugidio do poeta em seu estado de alumbramento perante São Paulo. São flashes pessoais/impessoais que derramam amor em forma de palavras e imagens poéticas.


Vejamos alguns poemas de Mário para sentir os veios crítico, irônico, lirico e apaixonado, principalmente  pela cidade de São Paulo(4):


Eu sou trezentos...

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,

As sensações renascem de si mesmas sem repouso.
Oh espelhos, oh Pirineus! Oh caiçaras!
Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!

(...)

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
Mas um dia afinal toparei comigo...
Tenhamos paciência andorinhas curtas,
Só o esquecimento é que condensa

E então minha alma servirá de abrigo.


Paisagem nº 1

Minha Londres das neblinas finas...
Pleno verão. Os dez mil milhões de rosas paulistanas.

Há neves de perfume no ar.
Faz frio, muito frio...
E a ironia das pernas das costureirinhas
Parecidas com as bailarinas...
O vento é como uma navalha
Nas mãos de um espanhol. Arlequinal...
Há duas horas queimou Sol.
Daqui a duas horas queima Sol.

Passa um São Bobo, cantando, sob os plátanos,
Um tralalá... A guarda-cívica! Prisão!
Necessidade a prisão
Para que haja civilização?

Meu coração sente-se muito triste...
Enquanto o cinzento das ruas arrepiadas
Dialoga um lamento com o vento...

Meu coração sente-se muito alegre!
Este friozinho arrebitado
Dá uma vontade de sorrir!

E sigo. E vou sentindo,
À inquieta alacridade da invernia,
Como um gosto de lágrimas na boca...


O cortejo (5)



Monotonias das minhas retinas...
Serpentinas de entes frementes a se desenrolar...
Todos os sempres das minhas visões! "Bom giorno, caro."

Horríveis as cidades!
Vaidades e mais vaidades...
Nada de asas! Nada de poesia! Nada de alegria!
Oh! Os tumultuários das ausências!
Paulicéia - a grande boca de mil dentes;
e os jorros dentre a língua trissulca
de pus e de mais pus de distinção...
Giram homens fracos, baixos, magros...
Serpentinas de entes frementes a se desenrolar...

Estes homens de São Paulo,
Todos iguais e desiguais,
Quando vivem dentro dos meus olhos tão ricos,
Parecem-me uns macacos, uns macacos.


(6)


Mas para falar de sua poética, ninguém melhor que o próprio poeta, no Prefácio de "Paulicéia Desvairada":


"A poética está muito mais atrasada que a música. Esta abandonou, talvez mesmo antes do século 8, o regime da melodia quando muito oitavada, para enriquecer-se com os infinitos recursos da harmonia. A poética, com rara exceção até meados do século 19 francês, foi essencialmente melódica. Chamo de verso melódico o mesmo que melodia musical: arabesco horizontal de vozes (sons) consecutivas, contendo pensamento inteligível. Ora, si em vez de unicamente usar versos melódicos horizontais:



Mnezarete, a divina, a pálida Frinéia
Comparece ante a austera e rígida assembléia
Do Areópago supremo...


Fizermos que se sigam palavras sem ligação imediata entre si: estas palavras, pelo fato mesmo de se não seguirem intelectual, gramaticalmente, se sobrepõem umas às outras, para a nossa sensação, formando, não mais melodias, mas harmonias.

Explico melhor:

Harmonia: combinação de sons simultâneos.

Exemplo:

Arroubos...Lutas...Setas...Cantigas...
Povoar!...

Estas palavras não se ligam. Não formam enumeração. Cada uma é frase, período elíptico, reduzido ao mínimo telegráfico.

Si pronuncio Arroubos, como não faz parte da frase (melodia), a palavra chama a atenção para seu insulamento e fica vibrando, à espera duma frase que lhe faça adquirir significado e que não vem. Lutas não dá conclusão alguma a Arroubos; e, nas mesmas condições, não fazendo esquecer a primeira palavra, fica vibrando com ela. As outras vozes fazem o mesmo. Assim: em vez de melodia (frase gramatical) temos acorde arpejado, harmonia - o verso harmônico.

Mas, si em vez de usar só palavras soltas, uso frases soltas: mesma sensação de superposição, não já de palavras (notas) mas de frases (melodias). Portanto: polifonia poética".


Mário in poesia nos inspira a realizar outras viagens pelo Brasil das Letras, assim como o artista polivalente o fez Brasil a dentro, quando tomou conhecimento de inúmeros aspectos culturais considerados essenciais a todos. Sua poesia, não só a "Paulicéia", mostra-se como uma janela de um comboio que ultrapassa as paisagens mais imediatas, a adentrar no simbólico, no mítico e no que há de mais poético em nossas brasilidades. Vale à pena o exercício dessa leitura.


(3)


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NOTAS:
(1) Quadro de Mário de Andrade pintado por Tarcila do Amaral - Fonte: http://www.capivari.sp.gov.br/
(2) Mário de Andrade em pintura de Lasar Segall (1927) - Fonte: http://www.dm.ufscar.br/~caetano/iae2004/G6/disco.htm
(3) Imagem-propaganda do filme Macunaíma - FONTE: http://museudainconfidencia.wordpress.com/2011/01/19/programacao-de-janeiro-cineclube-museu-da-inconfidencia/
(4) Os poemas 1 e 2 citados aqui são do livro ANDRADE, Mário de. Poesias completas. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1987. As páginas citadas são, respectivamente: 211, 87-88.
(5) O poema 3 citado aqui foi publicado no livro de ANDRADE, Mário de. "Paulicéia Desvairada". IN:  Poesias Completas. São Paulo: Martins, 1966.
(6) Foto e Prefácio disponíveis em: http://www.tvcultura.com.br/aloescola/literatura/poesias/mariodeandrade-ocortejo.htm

terça-feira, 8 de março de 2011

Corpo: palco de viva memória

Há algum tempo venho me interessando por um viés de pesquisa/estudo que se debruça sobre o corpo como uma espécie de avivador de memórias, um corpo que conta/canta/traduz algo sobre aqueles que precisam ser, ter voz e vez! Algo que se traduz da vida, pois quem rememora encena e (ri/a/)tualiza suas tradições.


Dentro de minhas (pre)ocupações acadêmicas, o corpo tem sido tema de reflexões de variada ordem, sobretudo no que diz respeito ao registro, a atualização e a retomada crítica do passado. São temas que há muito estão como que esquecidos e hoje, na era que se convencionou a chamar de contemporaneidade ou pós-tudo, há espaço pra tais matérias.

Vivemos um tempo em que o corpo é objeto de poder e fetiches, da banalização e da vida como espetáculo e mercadoria. Vejamos, a exemplo, as novas modalidade de escravos: crianças-soldados a serviço de guerras insanas, homens-mulheres-crianças a serviço do sexo.

Pessoas como Mercedes Sosa, Atahualpa Yupanqui, Carlinhos Brown, para citar apenas os três, entre tantos nomes importantes, mostram a nós - a humanidade -, que é preciso olhar além das coisas, não somente ver o sofrimento humano, mas registrá-lo em arte, para que, com outros olhos, possamos iluminar os caminhos da mudança, gestar/gerir liberdades.

Na voz, no registro literário ou no batuque do tambor estas pessoas, latinoamericanas como nós, ensinam que o corpo também pode ser palco e poder, quando bem direcionado em prol de mudanças sociais. Corpo que fala, canta, conta ou traduz o que outros corpos/pessoas não o podem fazer, por questões essencialmente educacionais, políticas e sociais, mas não só.





( Mercedes Sossa, pintada por Oswaldo Guayasamín - http://www.guayasamin.org/pages/2_obra_retratos.htm )



Mercedes destinou sua voz/corpo para cantar as necessidades básicas de sobrevivência de nossos irmãos latinoamericanos, principalmente, fazendo eco e fazendo-se reconhecer mundialmente por seu canto-causa. Na interpretação de uma canção para niños, aparentemente singela - "Duerme negrito"-, embute-se a força feminina diante do poder patriarcal e da expoliação pelo trabalho. Vejam/ouçam a canção aqui: http://www.youtube.com/watch?v=gKgEBBUI6U4

Atahualpa Yupanqui, escritor, músico e recompilador das tradições orais e folclóricas da Argentina (também amigo de Mercedes), registrou em sua obra polivalente não só a riqueza das tradições de seu povo, mas sobretudo deu voz as causas sociais de seu tempo. Leiam o trecho de um de seus livros:


"Corre sobre las llanuras, selvas y montañas, un infinito viento generoso.

En una inmensa e invisible bolsa va recogiendo todos los sonidos, palabras y rumores de la tierra nuestra. El grito, el canto, el silbo, el rezo, toda la verdad cantada o llorada por los hombres, los montes y los pájaros van a parar a la hechizada bolsa del Viento.

Pero a veces la carga es colosal, y termina por romper los costados de la alforja infinita.

Entonces, el Viento deja caer sobre la tierra, a través de la brecha abierta, la hilacha de una melodía, el ay de una copla, la breve gracia de un silbido, un refrán, un pedazo de corazón escondido en la curva de una vidalita, la punta de flecha de un adiós bagualero.

Y el viento pasa, y se va. Y quedan sobre los pastos las "yapitas" caídas en su viaje.

Esas "yapitas", cuentas de un rosario lírico, soportan el tiempo, el olvido, las tempestades.

Según su condición o calidad, se desmenuzan, se quiebran y se pierden. Otras, permanecen intactas. Otras, se enriquecen, como si el tiempo y el olvido -la alquimia cósmica- les hicieran alcanzar una condición de joya milagrosa.

Pero llega un momento en que son halladas estas "yapitas" del alma de los pueblos. Alguien las encuentra un día. ¿Quién las encuentra? Pues los muchachos que andan por los campos por el valle soleado, por los senderos de la selva en la siesta, por los duros caminos de la sierra, o junto a los arroyos, a junto a los fogones. Las encuentran los hombres del oscuro destino, los brazos zafreros, los héroes del socavón, el arriero que despedaza su grito en los abismos, el juglar desvelado y sin sosiego.

Las encuentran las guitarras después de vencido el dolor, meditación y silencio transformados en dignidad sonora. Las encuentran las flautas indias, las que esparcieron por el Ande las cenizas de tantos yaravíes.

Y con el tiempo, changos, y hombres, y pájaros, y guitarras, elevan sus voces en la noche argentina, o en las claras mañanas, o en las tardes pensativas, devolviéndole al Viento las hilachitas del canto perdido.

Por eso hay que hacerse amigo, muy amigo del Viento. Hay que escucharlo. Hay que entenderlo. Hay que amarlo. Y seguirlo. Y soñarlo. Aquel que sea capaz de entender el lenguaje y el rumbo del Viento, de comprender su voz y su destino, hallará siempre el rumbo, alcanzará la copla, penetrará en el Canto.


Extraído del libro "EL CANTO DEL VIENTO", 1965 - http://www.fundacionyupanqui.org.ar/viento.html




Sintam aqui, em rápidas palavras, a profundidade do espírito de Atahualpa Yupanqui, que se imortalizou pela música, pelas letras e pelo amor a seu povo:


Las "10 DEFINICIONES" por ATAHUALPA


-EL HOMBRE
El mejor paisaje.

-EL ARTE
Un tremendo desvelo.

-A LA LUCHA
Un viejo pleito entre la mentira y la verdad.

-AL MUNDO ACTUAL
Un hormiguero pateao.

-AL CANTO DEL HOMBRE
Una manera de llamarlo a Dios para el gran diálogo.

-A LA DEMOCRACIA
La más bella flor en lo alto de una rama.
Unos estiran sus brazos para alcanzarla. Otros quieren bajarla a balazos. Quizá creciendo en luchas y bondades infinitas, la flor llegue a nosotros. Amén

-A LA LIBERTAD
Único aire para la vida. (Cualquier parecido será aire acondicionado)

-AL AMOR
Una fuerza cósmica, capaz de elevar al hombre o hundir, o transmutar.

-A LA FE EN DIOS
Una clara luz, que impone enorme obligaciones.

-A LA PATRIA
Pedacito de tierra que resume la universalidad del hombre.



Extraído del díario "El Eco de Tandil" del día 28/06/69 - http://www.atahualpayupanqui.org.ar/definiciones.html



Esse ano, 2011, é considerado o ano da Percussão. Por iniciativa de Carlinhos Brown,  mentor do tema: “Percussão pura que Deus mistura”, uma das vertentes do Carnaval de Salvador é também a Percussão, como meio de reverenciar e homenagear grandes metres dessa arte, como Fialuna, Pintado do Bongô e Neguinho do Samba.


(1)


Em entrevista a uma emissora de TV nacional - a BAND ( 1- http://www.band.com.br/bandfolia/videos.asp?v=2c9f94b52e57bec2012e6c3b3c3d0765 2- http://www.band.com.br/bandfolia/videos.asp?v=2c9f94b62e57bf1e012e6c3cc1e006ba ), o músico baiano demostrou por meio de sons e palavras a importância de fazer e respeitar a percussão hoje, por uma questão de ancestralidade. Era esse tipo de som que os antigos escravos tocavam nas senzalas e que também foi alvo de discriminação. Então, valorizar e revitalizar a Percussão na Bahia e no Brasil, principalmente, é fazer vibrar esse som vivo, ancestral, que está em nós. É fazer um registro que repercutirá rumo ao futuro. Mais que valorização, a Percussão via Carlinhos Brown made in Bahia, expõe permanentemente uma arte coletiva africana e já afrobrasileira. Traz do/no corpo a memória dos velhos e sábios mestres do ofício ligado aos ritmos sagrados. Assim se faz cultura, sem deixar morrer o que está na base da nossa brasilidade, as raizes da cultura afro, dentre outras.


SEM CONCLUIR
Registro aqui esse salpicão de ideias e reflexões que precisam entrar uma vez mais na ordem do dia. Prestar atenção nesses pequenos e únicos retalhos de vida nos dá pano e linha para compreender que a existência precisa de cuidados, de escuta e olhares atentos para ver o que muitas vezes não pode e não quer (ou não deixam) ser visto.


Saudações de fraTERNURA (como diz o querido Miguel Almir Lima Araujo, Professor de Filosofia da UEFS).

Andréa do N. Mascarenhas Silva
UNEB

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(1) FOTO de C. Brown: http://www.zwelangola.com/index-lr.php?id=4367 - sobre o músico, vale à pena conferir a entrevista no mesmo link. E essas aqui tb: http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/musica/carlinhos+brown+apresenta+seus+adobros/n1237864420092.html
http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/musica/o+que+a+gente+quer+e+uma+franchising+de+acaraje/n1237864460513.html

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Procura-se... um intelectual assim ! ! !




Um Drummond assim não nasce todo dia!

Não me surpreendi ao ler esta notícia por conhecer um pouco a obra e a biografia de Seu Carlos, quase um comum funcionário público que passou boa parte da vida no Rio de Janeiro.

Um escritor tão renomado que se correspondia com pessoas e escritores anônimos, quase desconhecidos: papel com timbre próprio, cartas manuscritas, carinho impresso em palavras, sabedoria compartilhada, cuidado com os outros, um fino exemplar de alteridade... É por esse tipo de exemplo que me fio na vida!!
=))

Não é sem motivo que a 'Folha' e o neto do poeta (Pedro Graña Drummond) estão à frente de um movimento em prol de localizar a correspondência que Drummond enviava em resposta aos seus interlocutores.
=)

Queridas/os, inspirem-se nesse fresco sopro de vida que até hoje nos chega ! ! !



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FOTO de Marisa Cauduro/Folhapress (Folha ilustrada, 29/05/2010 - www1.folha.uol.com.br/ilustrada/)

Mais detalhes aqui:
www1.folha.uol.com.br/ilustrada/742436-cartas -revelam-rel...
www.carlosdrummonddeandrade.com.br/blog/2010/ 06/cartas-re...
www1.folha.uol.com.br/ilustrada/741985-folha- procura-cart...


Pra saber mais sobre vida/obra do poeta, vejam aqui:
memoriaviva.com.br/drummond/index2.htm
carlosdrummonddeandrade.com.br/vida.php

sábado, 30 de outubro de 2010

Ronaldo Fraga e Mário de Andrade

Há tempos venho ensaiando este post, desde a versão de verão do SPFW - 14/06/2010 .

Hoje vou falar de mais um dos passeios insólitos de Ronaldo Fraga pela cultura. Para brindar o verão que aí vem (2011), o estilista nos trouxe ninguém menos do que Mário de Andrade.

A moda criada a partir desse encontro nos faz conhecer e ao mesmo tempo revisitar as duas poéticas, por meio de uma viagem nada incidental. Moda e turismo, moda e literatura, moda e olhar, são algumas das palavras-chave que emanam do projeto atual de Ronaldo.

O 'óculos' cultural à moda de Mário rendeu uma coleção que revela a região norte/ nordeste brasileira sob uma ótica que é pura mistura de sentidos e focos culturais: no mínimo o que se vê é mais que foto-moda-poética!!!

Aqui abaixo é RF by RF (foto/croqui e texto - Fonte: http://ronaldofraga.com/blog/ )


Ronaldo Fraga e Mário de Andrade


Entre 1927 e 1929, Mário de Andrade (1893-1945) realizou uma série de viagens etnográficas aos estados do Norte e Nordeste Brasileiro.

Fez mais de 600 fotos, registrou hábitos locais e fez inúmeros registros de viagem. Este material mais tarde seria reunido em Livro, batizado de “O TURISTA APRENDIZ” . Na realidade não se tratou de uma viagem TURÍSTICA. MÁRIO registrando tudo, procurou traçar as coordenadas de uma Cultura Nacional através da Cultura Popular, memórias de ofício, música e culinária. Observou afetuosamente o primitivo, o rústico, manifestações populares com os olhos de um modernista metropolitano. Bebeu e comeu cores e nomes…

O meu grande sonho sempre foi fazer o mesmo percurso que ele, projeto até aqui impossibilitado por compromissos que me fazem escravo do meu tempo. Paralelo ao trabalho com minha marca, venho desde 2005 trabalhando com inserção de design em cooperativas e grupos de artesãos de Norte a Sul do Brasil. Só a pouco me dei conta que já vinha a tanto tempo registrando experiências e histórias como um Turista Aprendiz. Esta coleção é o resultado de um projeto desenvolvido junto a um grupo de bordadeiras da cidade de Passira no Agreste Pernambucano. Aqui a cultura pernambucana vem costurada, estampada e bordada em linho, seda, bases de algodão e jacquards imitando renda.

Meus olhos entram em festa por um Brasil feito à mão. Um País bordado de avessos reveladores… Ponto e linha desenham estórias de sobrevivência, amor e dor, refletindo a alma de um povo gentil, festivo, generoso e lindo.
Me embolo de ‘pontos-cheio’, ‘crivos’, ‘matames’, ‘pontos sombra’, ‘renda renascença’… Literalmente por um fio, pontos de um ofício ameaçado de extinção.

Aqui serei eternamente Aprendiz. Ronaldo Fraga

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E aqui abaixo tem fotos do site Vila Mulher ou Vila Fashion - http://vilamulher.terra.com.br/ronaldo-fraga-vira-turista-aprendiz-14-1-32-689.html





sábado, 23 de janeiro de 2010

Ronaldo Fraga: (des)concertando o mundo da moda

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Ronaldo Fraga no SPFW (FOTO by Alexandre Schneider/ UOL)



SPFW (FOTO by Alexandre Schneider/ UOL)



Só pode ser ele mesmo, o estilista Ronaldo Fraga, para seguir, a cada NOVA coleção, fertilizando, com adubos diferentes, o campo da moda!!! Foi assim dia 19 de janeiro/2010, no SPFW.


RF pensa e tece uma parte singular do mapa da moda brasileira (mas não só!).


A aproximação dos cenários das artes corporais (dança e coreografia) à tecedura da moda, mostra uma vez mais, o elemento diferencial em que se constitui a criação do artista mineiro.


Fazer moda sem pensar ou refletir diretamente a própria moda, eis um dos tons que ecoam da sinfonia criativa de RF. Ao mostrar roupas (?) e modelos (?) de trás-pra-frente, Ronaldo chama atenção no mínimo para a atitude pessoal que deve se sobrepor a qualquer estação ou modo de vestir, ao direito de exercer a moda ao bel prazer de quem compra ou inventa uma roupa, as peças de vestuário a serviço das pessoas e não o contrário: pessoas estampando e propagando marcas, nomes e assinaturas, quase que completamente alheias ao seu modo de viver e de encarar a existência.



Pina Bausch (FOTO by Gonçalo Santos)


Em sua homenagem à Philippine Bausch ou simplesmente Pina Bausch, que deu ares incríveis à dança e à coreografia mundiais, Ronaldo Fraga não apenas faz tributo ao talento da artista alemã. Brinda seu seleto e cada vez maior público com um registro vivo ou documento alternativo também artístico: assim como viveu e atuou Pina Bausch, RF nos mostrou que a arte, assim como a vida, precisa ter liberdade, inovação, consciência crítica que leve sobretudo à (des)construção do que se convencionou ou se instituiu como "o correto" ou o "único" meio de expressão. A moda já é assim em essência, mas somente Ronaldo Fraga, em meio à indústria brasileira de vestuário, insiste em nos lembrar que a vida é tambem assim, desde sua gênese: livre pra ser do modo que cada um inventar!!!


Não é à toa ver um pouco da tradição dos carnavais de Veneza refletida neste desfile de RF!!!


Sejamos ao menos um pouco como Pina e Ronaldo, mestres do 'contraciclo', para usar um termo do coreógrafo português, Paulo Ribeiro, em relação à obra de Pina.


Vistamos a vida e a roupa ao contrário do que insistem em nos impor!!! E viva a liberdade!!! E viva a arte e a vida by RF!!!


TEXTO: by Andréa Mascarenhas
Dra. em Comunicação e Semiótica
SSA, 23/01/2010

--o-o--

Fontes de pesquisa e imagens:
http://www.publico.clix.pt/Cultura/morreu-a-coreografa-pina-bausch_1389487
http://www.goethe.de/KUE/tut/cho/cho/ag/bau/ptindex.htm
http://estilo.uol.com.br/moda/album/ronaldofragai10_album.jhtm?abrefoto=43#fotoNav=63

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segunda-feira, 2 de novembro de 2009

ECOinspiração








By Ronaldo Fraga: pra se inspirar, refletir e sair por aí com uma atitude além de admirável, tb muito fashion. Por quê??? Por que nosso planetinha precisa de ações assim...

ECOnômicas
ECOlindas
ECOnscientes
ECOfashion
ECOsustentáveis

...

FOTO 1 do site Chic.
FOTO 2 Coleção Disneylandia, by Charles Naseh
LINK www.flickr.com/photos/ronaldo_fraga/3700807005/ - no álbus/flickr do Ronaldo

=))

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Projeto e ideia

Bom para o dia das crianças e para o natal, mas todo dia é dia de fazer criança sorrir!!!!



Quando somos bem jovens acreditamos que podemos mudar o mundo a partir no nosso umbigo e da nossa força e coragem para ir em frente e fazer algo revolucionário!!!

Com o tempo, chegamos à triste conclusão de que NÃOOO basta apenas querer e ter boas idéias para movimentar o mundo: precisamos de muita ajuda e de muitas pessoas e, na grande maioria das vezes, o que nos falta mesmo é o dinheiro.

Então, trago aqui o resultado de ações que não precisam de quase nenhum dinheiro, se usarmos a moeda da reciclagem, da rua José Paulino e do Brás e de gerenosas doações!!!!

Para tanto, só precisamos de gente do bem, de mãos arteiras e corações amigos, escolher os tecidos da bondade e costurar tudo com os fios do amor!!!!
=))

Socializo com vocês os dois projetos encantadores, inspiradores e que podem nos servir de exemplo para essas datas, ok?!

Em cada lugar funciona de um modo, mas a idéia básica é se propor a fazer bonecos de pano bem simples e de preferência com os retalhos que sobram dos nossos trabalhos e doá-los para crianças carentes (próximas a você ou não).

E se possível passar a ideia adiante para que mais e mais pessoas possam proporcionar alegria aos pequenos! É isso!

Besitos e vamos começar uma nova etapa de amor pelo mundo!!!!
=))

Vejam os links para conhecer melhor a ideia:

crafthope.com/

www.flickr.com/photos/45401004@N00/sets/72157613032223258/

www.flickr.com/groups/de_coracao/

www.flickr.com/photos/laranjalimaodesign/3189926131/in/po...

www.flickr.com/photos/laranjalimaodesign/3192570188/in/po...

www.flickr.com/photos/laranjalimaodesign/3192265944/in/po...

Link das fotos:

www.flickr.com/photos/45401004@N00/3229770241/in/set-7215...
www.flickr.com/photos/flordemaracuja11/3251566075/in/pool...

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

♥♥ Algodão colorido "de nascimento" !!! ♥♥




Olha que coisa mais rica do nosso país, gente!!!
E direto da Paraíba. Tenho muita vontade de conseguir comprar alguns novelos desse algodão, mas a história é complicada... Mas tenho fé que consigo!!!
*)

Tem mais dados sobre o assunto no grupo Dicas & dicas do Flickr:
www.flickr.com/groups/dicasedicas/discuss/72157604482618459/

## Crédito da foto e as informações abaixo são do site Vitrine do Cariri (aqui recortei apenas alguns trechos para o conhecimento de vocês):

"" Algodão Colorido é destaque na Revista Casa Cláudia de Outubro.
Projeto é reportagem de capa numa das principais revistas de decoração da América Latina. O algodão colorido produzido na Paraíba foi matéria de capa de uma das revistas de decoração mais respeitadas da América Latina. A Casa Claudia traz, na edição deste mês de outubro, oito páginas que contam a história do algodão colorido paraibano, desde o início do plantio no Estado, passando pela confecção dos tecidos e produção das peças, até sua projeção no mercado internacional.
(...)
Para se ter uma idéia, além das 150 lojas espalhadas pelo Brasil, dez países já comercializam as peças fabricadas com o chamado “algodão ecologicamente correto”. Entre eles estão Espanha, Portugal, Itália, Alemanha, Amsterdã e Estados Unidos.
(...)
Para as pessoas que já conhecem o produto, a repercussão desse trabalho funciona como incentivo para manter o mesmo padrão de qualidade e, dessa forma, conquistar novos mercados. Para Jeanne Darc Nóbrega, gestora do projeto do Algodão Orgânico, o interesse pelo algodão orgânico produzido na Paraíba é crescente, principalmente pelo fato do produto ter as condições necessárias para ser exportado.

Franquia é sucesso

Inaugurada recentemente em Osasco, São Paulo, a primeira franquia da Coopnatural já é um sucesso. A loja, que funciona no Shopping Continental, foi aberta em setembro passado e já precisou repor três vezes seu estoque. Além de produzidas com o algodão colorido, as peças se destacam também por agregar outros trabalhos, como a renda, fuxicos e bordados. Tudo produzido aqui na Paraíba por artesãs que trabalham em grupos.
(...)
Todas as peças são produzidas em Campina Grande. Lá são produzidas as peças que ganham o mundo e divulgam a Paraíba como produtora do algodão ecologicamente correto.
(...)
O algodão orgânico produzido na Paraíba é o único já certificado, o que permite sua comercialização em qualquer parte do mundo.

Para ler o texto na íntegra, visite o site:
vitrinedocariri.com.br/index.php?option=com_content&I...

Aqui neste blog tem bastante informação sobre o uso de fios naturais:
http://astramasdemilady.blogspot.com/2008/02/de-onde-vem-os-fios-continuando-de-onde.html

Bjinhos

Andrea